(...) mas não descarto a hipótese de você ter apenas projetado um amor em mim para vencer sua carência existencial, que era do tamanho da muralha da China, visível a olho nu a milhões de metros de distância. De minha parte, você me fez feliz e eu sei exatamente quando, como e por quê. Em contrapartida, olho pra trás e não lembro de ter feito você feliz da mesma forma, ao menos não com o mínimo de serenidade: você nunca me considerou um repouso, um porto, um albergue. A impressão que eu tinha é que minha presença funcionava como um dispositivo que fazia você entrar em euforia ou em surto.


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(...) agora fico em silêncio tal como você, os dois manipulando um ao outro com a quietude, apostando num desaparecimento que sempre alimenta interrogações, você tem vontade de me procurar? Quem de nós dois vai resistir mais tempo?







Martha Medeiros